sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O INDIZÍVEL..



Muito ainda deverá ser dito sobre as coisas que não conseguem ser ditas. Sobre os sentimentos, impressões, terrenos íntimos que parecemos incapazes de expressar, para os quais as palavras fracassam, as frases se revelam ineficazes e, por maior que seja nosso repertório e esforço, somos levados a crer que podemos tão somente tangenciar, sem talvez ter alcançado nenhum deles.
A fé na existência do indizível marca, em geral, a posição de que acreditamos dizer sempre menos do que queremos, na medida inversa de que somos provavelmente mais do que expressamos. Prevalece, com isso, a hipótese do fracasso da linguagem. O indizível, o não-abordável, a não-palavra, denuncia que o mundo é, mais que tudo, não-verbal – transborda cada tentativa de enunciá-lo, contém sempre alguma coisa que não conseguimos abordar ou dizer. Porque nem sempre haverá palavra adequada para dar conta de uma experiência, porque nem tudo é passível de ser expresso, há interstícios que não alcançamos por meio da linguagem, entrelinhas que se sobrepõem às linhas. Seriam esses interstícios que escondem mistérios e, com sorte, alguns dos melhores achados da poesia.

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