terça-feira, 4 de maio de 2010

Felicidade..




A felicidade é um estado. Isso quer dizer uma maneira de ser

que consiste em ser por nada senão por ser e em encontrar

nessa maneira de ser assim gratuitamente uma forma de

plenitude. Em virtude disso, a felicidade não está nas coisas nem

é alguma coisa. Ela também não está em alguém nem é alguém,

mas está na maneira pela qual se vivem as coisas e os outros.

Tudo pode, portanto, tornar-se ocasião de felicidade.

Todo mundo igualmente. Por menos que se faça não só um

esforço para ser, mas também e sobretudo o esforço de ser.

Donde a extraordinária liberdade da felicidade.

Sua extraordinária capacidade igualmente de poder transformar tudo.



BERTRAND VERGERLY

Se Eu FOSSE eU !!!!!!!!

CHRISTIAN OHLAND


"Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir.

E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavem a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida. Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei.

Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho, por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo que é meu, e confiaria o futuro ao futuro.

"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova do desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas a primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais."


CLARICE LISPECTOR