
"Cada dia deixamos uma parte de nós mesmos no caminho. Tudo se desvanece ao redor de nós, figuras, parentes, concidadãos, passam as gerações em silêncio, desaparece tudo e se vai, o mundo nos foge, as ilusões se dissipam, assistimos à destruição de todas as coisas, e isso não é bastante, nós nos perdemos a nós mesmos; somos tão estranhos ao eu que veio vivendo, como se não fosse o nosso próprio eu; o que eu era há alguns anos, os meus prazeres, os meus sentimentos, os meus pensamentos, não o sei mais, o meu corpo passou, a minha alma passou também, tudo o tempo arrebatou. Assisto à minha metamorfose, não sei mais o que era, os meus gozos de criança não sei mais compreendê-los, as minhas observações, as minhas experiências, as minhas criações de jovem estão perdidas; o que eu sentira, o que eu pensara (a minha única bagagem preciosa), a consciência da minha antiga existência, não mais a tenho, é um passado desfeito. Este pensamento é de uma sem igual melancolia. Faz lembrar as palavras do príncipe de Ligne: 'Se nos lembrássemos de tudo o que observamos ou aprendemos em nossa vida, seríamos bem sábios'".
(Henri Frederic Amiel)
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